Suspeito então que não haja nada de extraordinário nisto de viver,
como todos julgam.
Penso que seja só esta coisa que decorre
enquanto eu me desdobro neste texto
e tu te sentas na esplanada de sempre mexendo o café e puxando de um cigarro.
Desconfio que não haja ciência nenhuma,
nem magia,
nem segredo,
pois que a vida não é mais do que os teus momentos de bebedeira;
o teu corpo dormente numa manhã de ressaca;
uma noite em que danças até te doer os rins,
puto leva-me daqui que são dez da manhã e eu não sinto as costas,
de olhos fechados,
sempre de olhos fechados,
tudo de olhos fechados.
Deduzo que nada mais valha a pena
exepto os segundos de plena excitação que tens com um outro bocado de carne abandonado;
quando te deslargas de ti próprio e te tornas mera tesão emprenhada na pele de alguém.
Somos tão pouco,
somos tão pouco,
e a vida nada é senão este bocado de nada,
gargalhadas até doer a barriga,
sexo,
chorar em silêncio na almofada até doer a cabeça,
a dor pontiaguda da desilusão,
ah!,
um gemido nesse momento prazeroso a dois,
ou a três, quem sabe?;
uma vitória;
os teus cabelos ao vento;
as tuas pernas cruzadas na relva enquanto vês o sol nascer.
A vida existe entre o prazer e a tua pele arrepiada
contra o bafo de alguém no teu peito.
Uma reacção alérgica contra os outros, de vez em quando;
a alegria sádica de conseguires o que todos te dizem que não consegues,
ai!,
tão bom, tão bom quando consegues.
A vida é isto, meu caro,
tu só vives quando sentes alguma coisa.