Meu amor.
Acho que nunca te
chamei de meu amor.
Nas grandes
amizades não há tempo para palavras gastas nem para inhos e mariquices. É-se,
simplesmente, o que se é.
Respirei o dia
inteiro inquieta com ânsias de te escrever pois só hoje concebi que já não
somos as meninas que viajavam por Itália cheias de sonhos. Estamos crescidas.
Estamos Mulheres. E hoje vejo-te mais Mulher do que nunca porque ser Mulher é
ser valente e corajosa.
Admiro todas as
pessoas que têm de viver sem uma Mãe.
Porque viver sem
uma Mãe deve ser acordar todos os dias em carne viva, inflamada, a arder. Deve
doer para caralho. Deve queimar a alma toda e o corpo também e deve chamuscar
os sonhos e as esperanças e a vontade de viver. Deve queimar tudo goela abaixo
até se ouvir o borbulhar fervido do nosso próprio grito.
É-me insuportável
escrever-te sobre isto porque ontem escrevia aqui sobre como Florença é bela a teu
lado. E hoje escrevo-te sobre o pior dia da tua vida.
Não se pode ser sempre
feliz.
Desconfio que somos totalmente felizes apenas em criança e que os níveis
vão descendo com os cabelos brancos. Viver é, digam o que disserem, ir perdendo
felicidade em pequenas doses todos os dias. Começa com a saudade fininha dos
tempos de escola, dos baloiços e das férias grandes. Morre o cão companheiro de infância triturado por um carro qualquer. Perdemos os nossos avós. As famílias zangam-se. Os lugares desaparecem. E
eis que no climax da dor humana se encontram todos aqueles que não têm Mãe.
É por isso que hoje
te comecei a admirar.
Raramente me fogem
as palavras quando me apetece escrever aqui. Neste lugar que é metade teu.
Neste banco tão nosso onde se provam por escrito as aventuras e trapalhadas de
duas miúdas que vão vivendo o melhor que sabem. Quem diria que chegaria tão cedo o dia em que deixas de ser pirralha.
Quando se vive sem uma Mãe não se pode ser mais criança.
Sinto muito Tatiana. Sinto muito. A vida às vezes sabe mal.
Sê crescida e sê
Grande mas volta sempre aqui quando quiseres voltar a ser criança.