14-04-2014

Manifestam-se curiosas as potencialidades escondidas por detrás da primeira porta que vês ao entrares em casa após arruinares meio tecido pulmonar nas cem escadas, número certo, que te trazem a um quarto andar já cansado e com histórias de outros por contar, aquela porta que foi só nossa durante as tantas horas da nossa existência estulta imbecil inepta que nada traz senão estes nacos de tempo onde nos é permitido ser, verdadeiramente, felizes. A porta que testemunhou de forma serena o fôlego pouco discreto e comedido que é só nosso e que findou por breves dias enquanto eu aguardo desesperadamente o repouso futuro dos teus lábios no meu pescoço e suspiro de saudades tuas afagando o meu corpo cansado por ti contra a almofada. A primeira porta que vês neste quarto andar desgastado, a entrada que observa atentamente a forma como desejo o teu colo calmo sem hesitar na decisão de te deixar esventrares a minha carne da forma que quiseres e tornares-me tua por inteiro. Ah!, fui outrora um punhado de carne gélida e de falsas vontades momentâneas e meramente carnais de alguém que não tu, incapaz de valorizar o que faço o que digo o que sou, e eis que surges de forma incontestável na minha vida e me lavas o falso alívio que sentia ao queimar a minha auto estima de pedaços insignificantes em prol de outrem, curando-me assim o bocado em carne viva que eu não conseguia sarar há demasiado tempo. Por favor não dês um desfecho trágico à nossa história ainda no início, que eu estremeço ao ouvir o teu nome e sinto a ponta dos teus dedos a dançar no meu peito todos os segundos do meu dia, alguém me disse que era amor mas isso eu não prometo de mindinho porque preciso confessar àquela porta, agora tua, que juntos somos rasgos de felicidade doentia e inegável perante o olhar atento dos outros. As tantas horas tangentes dos teus beijos no meu ombro, das tuas mãos à volta do pedaço agora mais optimista que eu sou. Quero reviver vezes sem conta e enquanto me for possível o teu rosto na presença do meu gemido; levar as mãos à cabeça num desespero maravilhoso que anseio sentir para me tornar mulher-não-mulher acriançada que solta gargalhadas com o cabeça no teu peito. Preciso acalmar as correrias a que me sujeito no teu regaço enquanto me embalas de olhos fechados; quero partilhar contigo algo imutável fixo certo pois que tu foste o único que me leu as perguntas caladas que se atravessaram nos meus olhos e me romperam a pele num arrepio. Não arrases nem sufoques a forma como as nossas mãos se encaixam por favor, meu amor, que eu não aguentaria o confronto com o vazio da tua ausência nos meus dias após me habituar a este sentimento que cresce de forma saudável incontrolável extenuante para os nossos corpos cansados suados sedentos e sôfregos um do outro, impacientes pela próxima vez que formos peças de um puzzle só agora completo que se encaixam e se criam e se amam em movimentos de vai e vem.
Aproveitemos então esta força estranha que nos une de olhar preso um no outro, o cerrar das minhas mãos na tua carne e a presença assídua da nossa gargalhada em todos os momentos em que me encontro contigo excepto quando tenho de te deixar por uns dias e contra nossa vontade. Um abraço apertado e a despedida temporária dos teus lábios nos meus, viro costas de ombros descaídos e peito estalado da tua ausência que embora recente já me queima por dentro enquanto te reparo embevecido a olhar para mim e tenho a certeza que eu, Ana Cristina, mas não me chames Cristina, estou inegavelmente e completamente apaixonada por ti.