11.02.2014

Exerço novamente aquele ritual diário em direção ao setecentos e trinta e cinco de fones nos ouvidos e sem dar conta da desordem capilar que decorre de forma assustadora na minha cabeça devido a um vento chato e cansativo que me vira o guarda chuva enquanto penso para os meus botões: felizmente felizmente felizmente sou quase vinte e dois anos de erros cabeçadas enganos e quedas, actos cuidadosamente exercidos pela minha pessoa de forma estúpida e incorrecta a todos os níveis porque afinal não possuo qualquer tipo de santidade nas minhas entranhas, falho, caio, respondo mal, sou impulsiva e assumo actos sem pensar devido a esta angústia constante de querer viver a vida como deve ser, por isso confesso às minhas mãos frias e pontilhadas de pingos de chuva que irei sempre ser fiel e politicamente correcta a mim própria, ah!, que ninguém venha opinar sobre o que é suposto ser bem feito bem vivido bem aproveitado pois que toda a gente sabe viver de forma perfeita e maravilhosa atrás de umas frases feitas escarrapachadas no Facebook. Eu não me vou dar a isso, não vou não vou não vou não quero, não me venham com merdas que quem vem aqui ler-me, mesmo não me conhecendo intimamente, conhece um bocado deste caminho em desalinho que eu sou e sabe que nunca, na puta da minha vida, irei tomar alguma atitude para prejudicar alguém propositadamente. Ah, lordes, que mania esta do mundo conspirar contra vós, se eu beijo e danço e me perco é porque me apetece porque quero porque não vejo que os meus cinco minutos de pseudo loucura juvenil possam (inter)ferir com uma qualquer alma desgraçada e sem consolo que ande por aí ao abandono e quem julgar o contrário destas palavras que agora jorro não me conhece de todo. 
Sento-me de guarda chuva já fechado num qualquer banco de tecido feio e sem cor que os meus olhos vislumbrem ao entrar no autocarro, ninguém imagina a quantidade de cus e cabeças pensativas como a minha que se sentaram neste lugar. Os meus olhos imóveis cravados na chuva vomitada pelas nuvens a dançar com o vento de forma violenta mas bonita - eu acho - enquanto deduzo que nestes poucos anos de existência que fruo desde que fui parida nesta terra de loucos e putas, tenho entendido que somos todos uma alma defecada pelo universo ou um precalço sexual de outrem e mesmo assim insistimos nesta balela já gasta de que somos especiais e de que não passamos de uma existência irónica miserável oca que rasteja de canto em canto. 
Chego ao destino, saio do autocarro. Sobrevivi uma vez mais a esta viagem de quarenta minutos até casa. Que a minha vida não seja em vão e a tua também não, caríssimo. É só isso que eu quero.