Ana: chegou a
hora da aventura acabar. Não chores. Tens Lisboa à tua espera e Lisboa é linda.
Vão voltar os passeios bonitos pela baixa. Vais voltar ao Lux e ao Bairro Alto.
Podes ir a Belém comer um pastel, eu deixo. E naqueles fins de semana em que
não fores á terrinha podes ir a um miradouro de fones nos ouvidos. Mas aqui já
não é o teu sítio. Este lugar agora vai ser de outra pessoa. Essa cama. Essa secretária. Esse lugar na mesa. Duvido que o próximo que venha coloque fotografias na parede
também. Talvez deixe ficar o mapa do mundo que encontre ao chegar. Ana, chegou
a hora de te despedires. Já não precisas de cumprimentar o senhor da mercearia.
Já não precisas pedir a conta em Italiano. Já não precisas de acenar ao rapaz que
está sempre na esquina. Acabou. Faz as tuas malas. Apanha o teu avião. Volta
para os teus. Finge estar tudo bem. Este bocado de felicidade vai ficar em ti e
nas pessoas em que tocaste. Vieste mais vazia do que voltas. Só por isso já
valeu a pena. E viajaste, Ana. Só agora é que entendes como gostaste tanto
disto. Merda. Passou tão rápido, Ana. As coisas boas têm sempre um fim. Eu acho que são tão boas porque têm um fim. Se durassem para sempre, deixavam de ser boas. Chegou a hora de te despedires, estou a
falar a sério. São oito da noite e tu não fizeste as malas. Acabou. Tens coisas
a fazer. Trabalho pela frente. Livros para ler. Amigos para abraçar. Está na
hora de voltar. Se quiseres chorar chora tudo agora. Lá não. Ana, oh Ana. A
aventura acabou Ana. Estou tão triste por irmos embora Ana. Dá-me o teu braço.
E ajudo-te com as malas. Oh Ana... este lugar já não é teu. Que pena
tenho eu disso.