O meu corpo em cima da cama.
Alongo os músculos de braços esticados
querendo chegar à parte em que é suposto
sentir alguma coisa.
A ponta dos meus dedos,
vendo bem,
anseiam sempre em chegar
a alguma parte.
Talvez haja um lugar até agora desconhecido
onde não doa pensar, existir, ser.
Talvez haja um lugar sem sofrimento.
O meu corpo.
Na cama.
Esticado.
Os meus dedos
nesta busca incessante,
cansativa,
vã,
de encontrar alguma coisa.
Afastados da cabeça.
Quero afastar-me da cabeça também,
sair dela,
sair de mim,
regressar ao terceiro dia
mas não conforme as escrituras.
Quero ser outra coisa que não eu,
que não o meu corpo esticado na cama
à procura de algum lugar melhor que este.
Não podemos ser felizes todos os dias,
os meus dedos gritam-me:
não podemos ser felizes todos os dias.
Somos felizes porque já fomos infelizes.
Somos felizes porque já fomos infelizes.
Queria tanto que os meus dedos encontrassem
o lugar que procuram.
Estou realmente triste, hoje.
Só hoje, porém.
Que bom ser só hoje.