08.01.2014

Anseio que as engulas a todas, uma a uma sem dó sem piedade sem misericórdia por alguma dor que a carne delas possa eventualmente sentir ao receber o teu corpo afundado no corpo delas, num qualquer canto perdido durante a noite porque dizem que a noite é dos poetas e das putas. Rezo para que se lambuzem com a saliva um do outro e se rasguem e se venham e se traiam na vossa própria vergonha; que sejam mero pedaço animal confinado às vossas mãos podres; que sejam doença crónica um do outro e que aliviem essa vontade incontrolável e paralisante como formigueiro nos pés. Corroam os dedos um do outro, arruínem-se emaranhados nos lençóis como nacos de carne infértil de bondade e não deixem que ninguém vos roube isso porque enfim, esse nojo meramente físico e ilusório necessário à vossa felicidade momentânea vai terminar por causa natural, portanto usem-se, sujem-se e engulam tudo o que puderem sem perder tempo com os astros ou a prosa. Que as vossas veias sujas tresandem a sexo e que o desejo vos cegue enquanto rastejam enlameados em arrependimentos e amarguras, lembrando-se dos movimentos em vai e vem que concedem com tanto empenho e desapego sentindo nas vossas testas uma gota de suor salgado a escorrer sem rumo. Reclamem o tesão o gemido o orgasmo um do outro de mãos entrelaçadas mas ainda assim sem as mãos entrelaçadas, de olhos presos no outro mas ainda assim sem os olhos presos no outro; absorvam-se até aos ossos e bebam-se, naveguem e abandonem-se e voltem enfim para as vossas vidas fatídicas sem qualquer garantia de um encontro futuro porque lá no fundo, vocês sabem, nada mais serão um ao outro do que mera fuga sem bilhete de regresso como cicatrizes inócuas porém dolorosas nessa pele arruinada, gasta e usada para fins meramente carnais. Afinal é só isso que interessa mesmo!