18.12.13

O cobertor no chão os lençóis desalinhados 
o cinzeiro cheio uma pilha de roupa suja em cima da cadeira 
os sapatos desarrumados no chão perto de uma bola de cotão, 
que a outra vadia despediu-se e agora não tenho quem dê uso 
ao aspirador que tenho guardado lá em baixo, 
ainda me lembro quando ela sofreu o ataque de coragem mais vitorioso da sua vida, 
és um sacana miserável e eu despeço-me 
e lá saiu, 
fechou a porta com força 
(deve ter visto isso em algum filme, a vadia)
ainda me chamou filho da mãe enquanto descia as escadas apressada 
de mala numa mão e casaco noutra.
Foi-se embora, simplesmente, mas elas não costumam ficar muito tempo 
que eu sou asno doente e sádico demais para raparigas sensíveis. 
Resto eu a ouvir Arctic Monkeys enquanto abano o pé suspenso 
sem nenhum par de mamas que me aspire o cotão que se vai alojando. 
Dava-me jeito chegar a casa e ter aquela cabra de chinelos a limpar-me o chão
que eu sou um gajo que vive sozinho e se vivo sozinho claro que nem queria 
que ela me limpasse o chão, 
vocês entendem o que quero dizer, 
não lhe chamo vadia por acaso e enfim, 
é uma da manhã e eu nem tenho cotão no chão 
nem tenho nenhuma vadia para me enterrar com ela virada de costas 
nem tenho os sapatos desarrumados 
nem sequer sou gajo! 
Sou só a Ana que está acordada a horas tardias 
com vontade de lançar palavras 
em esguincho 
com os dedos apressados sob o teclado do computador. 
É!