O cobertor no chão os lençóis desalinhados
o cinzeiro cheio uma pilha de roupa suja em cima da cadeira
os sapatos desarrumados no chão perto de uma bola de cotão,
que a outra vadia despediu-se e agora não tenho quem dê uso
ao aspirador que tenho guardado lá em baixo,
ainda me lembro quando ela sofreu o ataque de coragem mais vitorioso da sua vida,
és um sacana miserável e eu despeço-me
e lá saiu,
fechou a porta com força
(deve ter visto isso em algum filme, a vadia)
ainda me chamou filho da mãe enquanto descia as escadas apressada
de mala numa mão e casaco noutra.
Foi-se embora, simplesmente, mas elas não costumam ficar muito tempo
que eu sou asno doente e sádico demais para raparigas sensíveis.
Resto eu a ouvir Arctic Monkeys enquanto abano o pé suspenso
sem nenhum par de mamas que me aspire o cotão que se vai alojando.
Dava-me jeito chegar a casa e ter aquela cabra de chinelos a limpar-me o chão
que eu sou um gajo que vive sozinho e se vivo sozinho claro que nem queria
que ela me limpasse o chão,
vocês entendem o que quero dizer,
não lhe chamo vadia por acaso e enfim,
é uma da manhã e eu nem tenho cotão no chão
nem tenho nenhuma vadia para me enterrar com ela virada de costas
nem tenho os sapatos desarrumados
nem sequer sou gajo!
Sou só a Ana que está acordada a horas tardias
com vontade de lançar palavras
em esguincho
com os dedos apressados sob o teclado do computador.
É!