Esta madrugada pensei muito porque dormi mal, desembrulhei-me para perceber o porquê de ser tão ridiculamente feliz porque hoje em dia já ninguém é ridiculamente feliz e há uns sonhadores com sorte que ainda o conseguem ser a muito custo lutando à sua maneira porque isto da vida é uma coisa chata e dolorosa e difícil - pelo que dizem - e termos problemas é uma maçada, termos de lutar por coisas dá trabalho e há sempre uma dor uma falta um amor mal resolvido e depois, oh!, depois há as pessoas, as pessoas serão sempre um segredo um mistério uma incógnita porque existe essa coisa da falsidade e do orgulho e do egoísmo e de cada um ter de viver por si enclausurado dentro dos seus próprios problemas porque os próprios problemas são sempre maiores que os problemas dos outros e eu continuo sem entender, sinceramente, o porquê de ser tão ridiculamente feliz. Adormeço durante meia hora e acordo com uma dor nos rins, que este colchão é uma merda e a minha colega de quarto tem efectivamente razão ao queixar-se, ai que eu durmo tão mal nem imaginas e de repente lembro-me das vezes em que descobro um jardim bonito e me deito na relva só porque sim, lembro-me das vezes em que me sento numas escadas com um amigo a fumar um cigarro, lembro-me das vezes em que me perco numa cidade bonita de fones nos ouvidos, lembro-me das vezes em que me apaixono pelas mãos de alguém e percebo, de olhos fechados deitada num colchão mau, que fico estupidamente feliz com coisas pequenas e talvez seja essa a resposta que procuro durante a madrugada, sou feliz de dentro para fora, para mim e para os outros, porque sei ser feliz com coisas simples. E no alto da minha ignorância sobre a vida aos vinte e um anos julgo ser este o segredo para se ser ridiculamente feliz.