- Eu avisei-te! - disse-lhe ela num tom vitorioso.
Ele sentia-se estranho. As mãos suavam.
Uma espécie de vazio na voz.
Talvez fosse cansaço.
Uma espécie de vazio na voz.
Talvez fosse cansaço.
Ou não.
Talvez fosse só a grande dor da perder.
- Mas sabes, isto é mesmo assim que funciona...
O silêncio incrédulo dele.
- As pessoas foram feitas para se perderem, para se usarem e para se despedirem. Não tem piada se for de outra forma!
E ele saiu.
Esgotado.
Pontapeava uma pedra enquanto caminhava.
As pessoas só prendem olhares em vai e vem. As pessoas só se precisam em vai e vem. As pessoas só se unificam em vai e vem. As pessoas só sentem e gemem e acreditam em vai e vem.
As pessoas foram feitas para se despedirem depois do vai e vem. Tal como ela dizia. E quem acha o contrário nunca se perdeu, nunca gemeu, nunca morreu nos braços de outro canalha. Quem acha o contrário nunca se foi e nunca se veio.
Ele chegou a casa, enfim. O barulho das chaves na ranhura da porta. A respiração abandonada.
Eu avisei-te!
Eu avisei-te!
Eu avisei-te!
Eu avisei-te!
Não acredites em amores a beber chá. Não acredites em amores em tardes de Inverno. Não acredites em amores e pronto!
Acreditar em amores é deixar que nos roubem tudo.
Acreditar em amores é deixar que nos roubem tudo.
Vai e vem.
Para prazer do corpo. Para conforto da alma. Para sermos junção com um estupor qualquer. Para nos esquecermos de nós. E no final, para nos despedirmos.
No final, para nos despedirmos.
No final, para nos despedirmos.
Porque as pessoas só se precisam em vai e vem.