O andar desajeitado sob as pernas magras. As mãos frias. A gola da camisa com nódoas de vinho.
Ele só gostava das noites que o punham de rastos.
Desmaiava de álcool algumas vezes contra a janela de um carro.
Cinzento, ele e o carro.
Queria sentir alguma coisa até sangrar.
Os olhos cansados.
Deambulava sem rumo de garrafa na mão.
Queria ser alguma coisa na vida de alguém,
talvez um poema amarrotado no bolso de um estranho ou um bilhete num livro da biblioteca.
Queria sentir-se desejado até aos ossos.
E é nesta parte do poema que eu apareço.
Aproximei-me.
Estava sozinha, também.
Eu sou uma confusão e quero que me arrumes.
Eu sou uma confusão e quero que me arrumes.
Eu não sou bom o suficiente.
Eu não sou bonito o suficiente.
Eu não sou engraçado o suficiente.
Eu sou uma confusão.
Eu sou uma confusão e quero que me arrumes.
E as mãos dele foram minhas, devagar.
Isto só vale a pena se souberes dar as mãos a alguém.
O frio a entrar pelo decote da camisa
e um arrepio na pele.
Ficámos de pensar só depois do erro.
Apresento-vos a história do fundo da garrafa:
nós os dois, umas mãos frias e um corpo dormente pelo álcool.
nós os dois, umas mãos frias e um corpo dormente pelo álcool.
Continuei o meu caminho, pois,
sóbria,
ele continou o dele
perdido e bêbedo.
Há pessoas que já nascem com tragédia nas mãos
mas eu não posso fazer nada.