Tenho de te confessar que finalmente percebi que não nos conhecemos por dentro nem sabemos nada sobre as entranhas um do outro porque falávamos pouco, falávamos tão pouco e se formos a pensar com cuidado nem falámos nunca!, e que amargo isto é, sabermos de cor cada canto do corpo um do outro porque não sobrou milímetro de pele que tivesse ficado por arranhar e afinal nem conhecermos merda nenhuma do que nos dói.
E assim me despeço e te termino, juro ser esta a última vez que te escrevo porque nem tenho pensado em ti com saudades - sabias que ficavas assim tão bem em palavras? - e aproveito, sinceramente, para te perguntar se conheces mais alguém que te escreva que te guarde que te lembre e não respondas que eu não quero ouvir a tua voz não respondas que eu bem sei que não gosto de ti gosto só dessa tua maneira sacana velhaca livre desprendida relaxada provocatória de ser, não respondas que eu tenho medo de me lembrar das tuas mãos não respondas que eu sei que nunca tu hás-de encontrar alguém que te escreva como eu.