Ou morres tu ou morro eu, temo que por isto seja altura de nos pôr fim, minha querida, ando cansado esgotado oco gasto até ao osso, tenho gritado até sangrar sempre que te recordo e desperto-me sem fome sem força sem vontade sem ti, desperto-me sem ti: é por isso que agora me despeço enquanto me desfio e me rasgo nestes verbos. Ou morres tu ou morro eu. Suspeito ser agora que nos termino e oiço-me a morrer, oiço-me a morrer no corpo na pele nos nervos na alma. O meu existir apodrece com o passar das horas apodrecem-me nacos de carne, acredita nisto que te clamo, fragmentam-se-me os membros tenho perdido cabelo peso amigos perdi o emprego também ah!, tenho de nos terminar minha querida, ou morres tu ou morro eu!
Ou morres tu ou morro eu,
e não me imagino morto, amo as minhas mãos o meu peito os meus músculos para morrer agora; sou um gajo inteligente sou pois, gosto do meu queixo e da minha barba com três dias tenho alguma cultura geral e desconfio que ainda me esperem muitas noites de tesão com algumas raparigas a quem possa chamar de minha querida como te chamo a ti por isso não vou morrer agora. Se morres tu ou morro eu desculpa mas terás de ser tu a morrer e já me decidi, morres tu, morres tu, morres tu e não volto com a minha palavra atrás não me venhas com as tuas balelas e com as tuas mãos e com a tua voz. Morres tu e acabou o assunto. Morres tu porque gosto mais de mim do que gosto de ti e não mereço morrer já, minha querida, morres tu, morres tu que eu escolho-me a mim.