17-08-2016

Meu amor.

Acho que nunca te chamei de meu amor.
Nas grandes amizades não há tempo para palavras gastas nem para inhos e mariquices. É-se, simplesmente, o que se é.

Respirei o dia inteiro inquieta com ânsias de te escrever pois só hoje concebi que já não somos as meninas que viajavam por Itália cheias de sonhos. Estamos crescidas. Estamos Mulheres. E hoje vejo-te mais Mulher do que nunca porque ser Mulher é ser valente e corajosa.

Admiro todas as pessoas que têm de viver sem uma Mãe.

Porque viver sem uma Mãe deve ser acordar todos os dias em carne viva, inflamada, a arder. Deve doer para caralho. Deve queimar a alma toda e o corpo também e deve chamuscar os sonhos e as esperanças e a vontade de viver. Deve queimar tudo goela abaixo até se ouvir o borbulhar fervido do nosso próprio grito.

É-me insuportável escrever-te sobre isto porque ontem escrevia aqui sobre como Florença é bela a teu lado. E hoje escrevo-te sobre o pior dia da tua vida. 

Não se pode ser sempre feliz. 

Desconfio que somos totalmente felizes apenas em criança e que os níveis vão descendo com os cabelos brancos. Viver é, digam o que disserem, ir perdendo felicidade em pequenas doses todos os dias. Começa com a saudade fininha dos tempos de escola, dos baloiços e das férias grandes. Morre o cão companheiro de infância triturado por um carro qualquer. Perdemos os nossos avós. As famílias zangam-se. Os lugares desaparecem. E eis que no climax da dor humana se encontram todos aqueles que não têm Mãe.

É por isso que hoje te comecei a admirar.

Raramente me fogem as palavras quando me apetece escrever aqui. Neste lugar que é metade teu. Neste banco tão nosso onde se provam por escrito as aventuras e trapalhadas de duas miúdas que vão vivendo o melhor que sabem. Quem diria que chegaria tão cedo o dia em que deixas de ser pirralha.

Quando se vive sem uma Mãe não se pode ser mais criança. 

Sinto muito Tatiana. Sinto muito. A vida às vezes sabe mal.


Sê crescida e sê Grande mas volta sempre aqui quando quiseres voltar a ser criança.