Tenho uma mala a que chamo dinossauro, gigantesca, pesada, duas rodas. Chego ao aeroporto de Lisboa ás cinco da manhã, ansiosa mas decidida em manter a calma. Os meus pais do meu lado a ajudar. O dinossauro tem peso a mais e lá dou 50 euros á TAP para levar aquilo tudo. 34 quilos de roupa, vamos embora! Entro na zona de embarque, despeço-me, entro no avião. O ouvido direito meio entupido. Aterro em Roma. Tudo muito verdinho. Agora tenho de ir para Catânia. Não sabia que existia uma cidade chamada Catânia. A ideia é fazer check out, tirar a bagagem e voltar a fazer check in. Avisaram-me destas andanças na véspera do voo. Em Itália é uma hora a mais e eu esqueço-me desse pequeno pormenor. Apanho uma empregada sem paciência, com cara de quem está naquela altura do mês. Não percebo um boi do que ela diz. Tenho a excelente ideia de dividir o peso pelas duas malas para não voltar a pagar 50 euros. Uma fila de 15 quilómetros atrás de mim. Abro as malas e saltam-me cuecas, meias e gorros. Tudo no chão. Uns chineses atrás de mim já impacientes. Eu toda esbardalhada de malas abertas e cuecas na mão. Tentativa de divisão completamente falhada. Volto a pagar 50 euros pelo excesso de peso do dinossauro. Vou para a porta de embarque mas ainda falta uma hora para o meu voo. Tranquilo. Está tudo a correr bem. Ligo aos pais. Espero. Vou para a porta orgulhosa de me estar a sair bem. Dizem-me que o avião já partiu. Ofendo-me mentalmente e penso no seguinte: fodasse! Mandam-me para o D1, do D1 para o D4, do D4 para outro D, e com isto passo 6 horas de um lado para o outro no aeroporto de Roma, de bagagem de mão nos braços porque entretanto o fecho se estragou, a tentar explicar que perdi o meu voo. Seis horas! Ninguém me entende nem consegue ajudar, mas isto é preciso é calma. Tenho de ir para Florença mas o dinossauro foi para o avião. Entro numa sala onde se apanha a bagagem e espero horas a fio pela minha mala. Uma fome de morte. Tento sair dali para ir comer, e adivinhem? Se sair da zona de bagagens já não posso entrar. Sento-me resignada á espera que o dinossauro apareça no tapete rolante. Finalmente aparece! Apanho o TGV para Florença. No caminho, as rodas do dinossauro partem-se. Fantástico! Arrasto 34 quilos pela estação de Roma sem saber onde é a linha. Entretanto tenho eczema nas mãos. Chego finalmente a Florença, despenteada, esfomeada, exausta, sem rodas, sem fecho, mãos inchadas, dor de costas. Apanho um táxi até ao hostel. Tenho emergência de um banho, de uma refeição e de uma cama. Conheço um casal californiano, nos seus trinta e poucos anos. Dividimos táxi. No final eu quero dizer ao homem que lhe dou a minha parte do dinheiro. Engano-me e sai-me "i want you". A namorada fica a olhar para mim a pensar se me bate ou não. Não bate! Enquanto isto vou dando calinadas no pouco Italiano que tenho e peço uma cama no café. Chego ao hostel e tenho um buraco no colchão da minha cama e o chão cheio de água, mas não faz mal. Cheguei. Apresento-vos a minha viagem. Péssima, diga-se de passagem. Mas já cá estou. E estou bem, e feliz, e inspirada, e tudo.